Germano Almeida.. inventor de estórias
Estou a ler "A Família Trago" de Germano Almeida. Já tinha lido "O dia das calças roladas", "Os dois irmãos", "A ilha fantástica", "Memórias de um espítiro", " O Mar da laginha" e "O Testamento do Sr Napumoceno", este último adaptado ao cinema, com êxito.
Germano Almeida tem o dom de nos fazer sentir cada vez mais caboverdianos, pela sua escrita, que embala o leitor numa viagem ao mundo do pó e das estórias tantas vezes ouvidas e muitas vezes vividas no meio de canas-de-açúcar, de dunas, a beira-mar, em grutas sagradas, enfim, neste buraco chamado Cabo Verde.
Consagrado como um dos melhores escritores dos PALOP na actualidade (os vários prémios que já recebeu falam pela sua escrita e fama), o autor da Boa Vista tem uma escrita que flua como se fosse um rio em direcção ao mar, que nos cativa e nos prende, que nos faz viver infâncias vivas. A mistura do português com expressões próprias do crioulo- uma espécie de portugês crioulizado- dão um cunho próprio a escrita de Germano. E uma das suas marcas é a abolição do diálogo normal das personagens, ou seja, ao preterir das regras ortográficas, do ponto, paráfrafo, travessão para introdizir um diálogo, passa os diálogos das personagens directamente para a boca no narrador, dando-lhe uma fluência tal que quase não dá tempo ao leitor de fazer uma pausa para respiração. E tem o dom de ter nas hitórias sempre qualquer coisa mais picante, mais hilariante, nunca deixa o sexo de lado, o sexo caboverdianamente encarado (como se em Cabo Verde o sexo fosse diferente... e é...tem qualquer coisa de diferente, de ...caboverdiano).
"A família Trago" não lhe foge a regra. As estórias de Germano Almeida, muitas delas passadas na Boa Vista, sua terra natal, parecem confundir-se com a realidade do autor, com o seu percurso desde crianca até a fase adulta.
Não há na actualidade caboverdiana alguém que lhe faça frente. Germano Almeida é o maior...
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